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Muçulmano, socialista e tiktoker: quem é Zohran Mamdani, prefeito eleito de Nova York

Zohran Mamdani, socialista, muçulmano, tiktoker e futuro prefeito de Nova York
Confirmando as pesquisas que o projetavam como favorito, o democrata Zohran Mamdani venceu as eleições para a prefeitura de Nova York com uma biografia que, no papel, não indica qualquer favoritismo: um jovem de 34 anos, autodeclarado socialista, imigrante africano e muçulmano.
Mamdani assume o cargo mais alto da maior cidade dos EUA no próximo dia 1º de janeiro.
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A conquista eleitoral foi construída com propostas à esquerda das de seu próprio partido e vídeos nas redes sociais — foi pelo Tiktok que ele anunciou, enquanto corria uma maratona, que se candidataria nas primárias democratas à prefeitura de Nova York.
Carismático, Mamdani abocanhou não só a vitória nas primárias democratas, que ocorreu semanas depois de seu anúncio, derrotando o experiente ex-governador nova-iorquino Andrew Cuomo, derrotado novamente após decidir concorrer à prefeitura como candidato independente.
Mamdani também se tornou a grande promessa de renovação do Partido Democrata após a amarga derrota nas eleições presidenciais de 2024, e virou alvo de comparações como ex-presidente Barack Obama.
“Eu mal havia ouvido falar de Mamdani, e não sabia que ele ia concorrer à prefeitura até ele aparecer no ‘feed’ do meu Instagram e Tiktok”, disse o escritor nova-iorquino Chris Hayes, autor do livro de política norte-americana “O Canto da Sereia”, sobre narrativas políticas para ganhar atenção dos eleitores, a um podcast do jornal “The New York Times”.
A estratégia nas redes sociais, com vídeos irreverentes e referências do cinema moderno e até de Bollywood, não foi a única responsável pela ascensão meteórica em meses de Mamdani. Seu histórico e sua agenda política também o ajudaram.
O candidato democrata é um imigrante africano nascido em Uganda e declaradamente socialista que defende pautas como supermercados subsidiados, a gratuidade do transporte público e de creches escolares gratuitas e o congelamento do aluguel de quase um milhão de nova-iorquinos.
Mamdani é também muçulmano e frequentemente fala sobre sua fé, algo encarado como tabu na cidade, devido aos atentados de 11 de setembro de 2001. Em discurso no fim de outubro, ele afirmou que não viveria mais “nas sombras”.
“O sonho de todo muçulmano é simplesmente ser tratado da mesma forma que qualquer outro novaiorquino. No entanto, por muito tempo, nos disseram para pedir menos do que isso e para nos contentarmos com o pouco que recebemos. Chega”, declarou.
‘Terremoto’ democrata
Zohran Mamdani, em evento de campanha em NY
Ryan Murphy/Reuters
A candidatura de Mamdami causou um terremoto no Partido Democrata. Andrew Cuomo, de 67 anos e então nome natural da sigla para a prefeitura nova-iorquina após comandar por dez anos o estado de Nova York, decidiu se lançar como candidato independente.
Na semana passada, Cuomo recebeu apoio do atual prefeito Eric Adams, que desistiu de disputar a reeleição (leia mais abaixo). E, na segunda-feira (3), ninguém menos que o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou apoio ao ex-governador democrata, desencorajando eleitores em votarem no candidato de seu próprio partido, Curtis Sliwa, já em 3º nas pesquisas de intenção de voto.
Trump, aliás, é o único político norte-americano que conseguiu aplicar com sucesso a mesma estratégia de redes sociais que Mamdani usa, diz o escritor Chris Hayes. Ambos, segundo Hayes, conquistaram eleitores com discursos afiados e explorando de forma certeira suas redes sociais.
Os vídeos de Mamdani no Tiktok, onde ele tem 1,6 milhão de seguidores, já conquistaram 23,6 milhões de curtidas.
A grande diferença é o espectro em que cada um se encontra. Trump, que já chamou Mamdani de um “lunático comunista” (leia mais abaixo), se elegeu com promessas de caçar e expulsar imigrantes em situação irregular nos EUA, o que ele vem cumprindo.
Nascido na Uganda, criado em NY
Já Mamdani é o perfil de alvos atuais do governo Trump: nascido em Kampala, capital de Uganda, o jovem de 34 anos imigrou para os Estados Unidos aos 7 anos.
Ele é filho de mãe indiana — a cineasta Mira Nair, conhecida no meio do cinema independente e premiada nos festivais de Cannes e Veneza — e pai ugandês.
Mas Zohran Kwame Mamdani foi criado em Nova York. Por isso, além de ser fluente em seis idiomas — inglês, hindi, bengali, urdu, árabe e espanhol —, sabe falar a “linguagem” nova-iorquina. Para angariar votos, por exemplo, entendeu como conquistar um valioso eleitorado que se situa longe dos extremos de pobreza e riqueza da cidade.
Ao longo da corrida eleitoral, as pesquisas apontavam o democrata como favorito incontestável entre nova-iorquinos que trabalham e têm poder de compra, mas que enfrentam dificuldades por conta do alto custo de vida de Nova York, principalmente o de moradia.
Crise imobiliária como plataforma
Cartaz de apoio a Zohran Mamdani em Nova York
Ryan Murphy/Reuters
O preço dos aluguéis e a escassez de residências são problemas generalizados na cidade mais populosa dos Estados Unidos – o que faz com que, além de ter um perfil progressista e receptivo a pautas do gênero, os eleitores de Mamdani também sintam na pele a crise habitacional.
Em junho, o aluguel médio em Nova York superou, pela primeira vez, o valor de US$ 4 mil (cerca de R$ 21,8 mil), segundo o site imobiliário StreetEasy. O valor é mais que o dobro da média das cidades norte-americanas.
Mamdani propôs congelar o preço dos aluguéis para dois milhões de inquilinos na cidade e construir novas moradias, em um discurso apontado como a grande alavanca de sua campanha, feita em grande parte pelo Tiktok.
Mas sua plataforma inclui ainda propostas contra desigualdade, o racismo e o preconceito à população muçulmana e a favor de ações para a população LGBTQIA+.
Ele defendeu ainda taxar progressivamente grandes fortunas — mas, segundo o jornal “The New York Times”, se mostrou aberto a negociar a respeito.
“Francamente, eu não acho que deveríamos ter milionários”, disse o democrata durante sua campanha, em uma crítica direta aos maiores doadores do Partido Democrata.
Em seus vídeos e em atos de campanha, Mamdani não hesita em desafiar orientações de sua sigla. É bastante crítico, por exemplo, das ações de Israel na Faixa de Gaza, tocando em um ponto sensível para a grande população de judeus nova-iorquinos, eleitores clássicos democratas.
Ao “New York Times”, líderes conservadores e democratas descreveram Mamdani como sendo muito de esquerda para atrair eleitores fora da cidade de Nova York, um reduto democrata. Seus adversários trataram as suas ideias como pouco realistas e perigosas do ponto de vista fiscal.
Reação dos adversários
O discurso acabou gerando abalos na ala mais tradicional da sigla, como no atual prefeito de Nova York, Eric Adams, que apoiou Andrew Cuomo.
“Mamdani não respeita o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) e não trata a sua segurança como uma verdadeira prioridade”, disse Adams, também ex-policial. A segurança, aliás, foi a principal bandeira de Cuomo — ele propôs, por exemplo, aumentar o número de policiais nas ruas.
Os apoiadores de Cuomo, que concorreu com o slogan de campanha “Diga não a Zo [do primeiro nome do adversário, Zohran]”, chamam Mamdani de “extremista islâmico”. Cuomo fez pouco para desencorajá-los —disse não ser responsável pelas palavras de terceiros—, o que gerou acusações de que sua campanha abraçou a islamofobia.
Apoiado por doadores bilionários, Cuomo pressionou o terceiro candidato da disputa, Curtis Sliwa, de 71 anos, do Partido Republicano, a desistir da eleição —a ideia era aumentar as chances de vencer a eleição. Sliwa se recusou.
Para os republicanos, aliás, o discurso afiado do candidato democrata virou um prato cheio. Mamdani se tornou um dos principais alvos de ataques de trumpistas feitos nas redes sociais, principalmente nas últimas semanas, com a aproximação da votação.
Antes disso, o próprio Trump já disse que não iria “permitir” que o filho de indianos chegasse ao poder em Nova York.
“Como presidente dos Estados Unidos, não vou deixar esse lunático comunista destruir Nova York. Fiquem tranquilos: eu tenho todos os controles e todas as cartas na mão. Vou salvar a cidade e torná-la ‘quente’ e ‘grandiosa’ novamente, exatamente como fiz com os bons e velhos EUA”, escreveu Trump em julho.
Zohran Mamdani discursa ao lado de lideranças muçulmanas em centro islâmico no Bronx, em Nova York
Ted Shaffrey/ AP
Sobre os ataques dos adversários, Mamdani disse, no mesmo discurso de 24 de outubro, no Centro Islâmico do Bronx:
“Ontem, Andrew Cuomo riu e concordou quando um apresentador de rádio disse que eu comemoraria outro 11 de Setembro. Ontem, Eric Adams disse que ‘não podemos deixar nossa cidade se tornar a Europa’. Ele me comparou a extremistas violentos e mentiu repetidamente ao dizer que nosso movimento busca incendiar igrejas e destruir comunidades. No dia anterior, Curtis Sliwa me caluniou em um debate, afirmando que eu apoio a ‘jihad global’ “Independentemente do que digam, ainda existem certas formas de ódio que são aceitáveis ​​nesta cidade”, afirmou.
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