Caiu no Enem 2025: questões citam Paolla Oliveira e padrões de beleza, Paulinho da Viola e carros elétricos
Tema da redação do Enem é ‘Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira’
O 1º dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 teve nível de dificuldade considerado fácil por professores e concentrou questões que traziam, como pano de fundo, discussões sobre desigualdade, gênero, meio ambiente e religião.
Entre as questões, apareceram Paolla Oliveira e Margot Robbie, citadas em um texto sobre padrões de beleza impostos às mulheres, além de temas sobre raça, envelhecimento da população e transição energética.
De acordo com docentes ouvidos pelo g1, a prova foi equilibrada e com textos mais curtos que nos anos anteriores, mantendo a proposta interdisciplinar do exame.
A redação abordou o tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” — e um dos textos de apoio citava uma reportagem publicada pelo g1 sobre os desafios enfrentados por idosos com baixa renda.
Nesta reportagem, confira os seguintes pontos
Sete temas de destaque no Enem
Qual foi o nível de dificuldade geral da prova
Paolla Oliveira e o debate sobre o padrão de beleza imposto às mulheres
O que caiu em geografia?
O que caiu em história?
O que caiu em filosofia e sociologia?
O que caiu em linguagens?
Sete temas de destaque no Enem
Os primeiros candidatos só podem sair com o caderno de prova depois das 18h30. Até lá, veja um resumo do que se sabe até aqui sobre os temas que caíram no Enem 2025, segundo o relato de professores e alunos:
Padrão de beleza imposto às mulheres, com exemplos de Paolla Oliveira e Margot Robbie;
Envelhecimento da população brasileira e combate a estereótipos sobre a velhice;
Discussão sobre inclusão e saúde mental no esporte, com referência à skatista Raíssa Leal;
Questão com textos da Bíblia e do Alcorão, comparando visões sobre trabalho e ciência;
Temas ambientais e energéticos em Geografia, como CO₂, desmatamento e carros elétricos.
Questões sobre desigualdade racial e valorização da cultura afro-brasileira;
Macedônia do Norte e governos de Platão e Aristóteles, em Filosofia e História;
Tranquila e fácil ou técnica e difícil?
De acordo com Raul Celestino de Toledo, coordenador pedagógico do Poliedro Curso, a prova deste domingo foi tranquila e relativamente fácil, sem questões de alta complexidade.
“Houve uma boa distribuição dos conteúdos na área de Humanas. Chamou atenção o destaque dado às questões relacionadas à mulher, que apareceram tanto em Ciências Humanas quanto em Linguagens”, avaliou.
Segundo o professor, a figura feminina foi recorrente em diferentes contextos, inclusive em temas ligados à cultura e à sociedade, o que dialoga com a proposta da redação sobre os desafios do envelhecimento na sociedade brasileira.
“Outro ponto marcante foi a presença de várias questões, pelo menos umas cinco, sobre temas étnico-raciais e desigualdades, valorizando especialmente a cultura afro-brasileira”, disse.
Raul destacou ainda que a carga de leitura foi menor neste ano, com textos mais curtos e perguntas mais objetivas — sem fugir do estilo tradicional do Enem.
“Curiosamente, saiu o Caetano Veloso e entrou o Paulinho da Viola em uma das questões. No fim das contas, foi uma prova equilibrada, com bom ritmo e dentro do esperado”, completou. Um dos textos trazia um trecho de “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola, usado como reflexão sobre encontros, desencontros e temas sociais.
Para Vinicius Beltrão, gerente de ensino e inovações educacionais do SAS Educação, o Enem 2025 apresentou uma prova mais técnica e difícil que a do ano passado, tanto em Linguagens quanto em Ciências Humanas.
“Entendi a prova de ciências humanas como mais técnica, portanto mais difícil no nível interpretativo”, avaliou.
Segundo ele, as questões de Linguagens exigiam interpretação em camadas.
“A prova estava bastante interpretativa, mas de uma forma mais profunda — o estudante precisava cavar alguns níveis para chegar no que a questão solicitava. Não eram perguntas tão óbvias como víamos antes”, explicou.
Além das funções de linguagem, o exame cobrou temas ligados ao papel do autor e ao impacto social da comunicação. “Tinha muito sobre o que o autor quis dizer, qual é o fato que foi colocado e o impacto que ele tem na nossa sociedade”, destacou Beltrão.
Também chamou atenção para questões interdisciplinares com textos religiosos, algo inédito no exame na visão dele.
“Havia uma questão que falava sobre o trabalho digno, com dois trechos da Bíblia e um do Alcorão. Nunca tinha aparecido antes esse tipo de excerto religioso”, disse.
Outro ponto recorrente foi a variação linguística e a diversidade cultural, com menções a línguas indígenas, termos da cultura africana e até uma palavra em árabe — o que o professor considerou uma novidade.
“Vimos muitas questões sobre transformação digital e comunicação contemporânea, tanto em língua portuguesa quanto nas provas de inglês e espanhol”, completou.
O orientador pedagógico Raphael Kapa, do Colégio Andrews, destacou um maior equilíbrio no volume de textos da prova de Linguagens deste ano. “Havia um texto base grande em um bloco de questões — uma crônica sobre tecnologia e a perda do hábito de escrever à mão — mas, no restante da prova, os textos estavam mais curtos”, explicou.
Em História, Kapa observou que o exame foi menos interpretativo do que em anos anteriores, exigindo maior domínio de conteúdo. “Foi necessário saber o conteúdo para responder, inclusive em uma questão interdisciplinar sobre a obra de Adriana Varejão, que apareceu no caderno de Linguagens”, afirmou.
O professor ressaltou ainda o peso das questões raciais e culturais em todo o exame. “Se por um lado o tema da redação foi o envelhecimento, a temática central da prova objetiva foi a questão racial, que apareceu em bastante volume, com perguntas sobre cultura, religiosidade e racismo”, destacou.
Padrão de beleza imposto às mulheres
O Enem usou como mote o tema da cobrança por padrões de beleza impostos às mulheres, especialmente às mulheres famosas. Foram citados os casos de Paolla Oliveira, que já foi criticada por estar “acima do peso”, e Margot Robbie, questionada por não ser “bonita o suficiente” para interpretar a Barbie. Ambas foram lembradas como exemplos de como o padrão de beleza ainda impacta a imagem pública das mulheres.
Outro texto de apoio fazia referência a uma campanha do Senado sobre mudança de comportamento em relação à velhice, ilustrada pelas novas placas de banheiro que deixaram de usar a imagem do idoso com bengala, numa tentativa de combater estereótipos.
Houve ainda discussões sobre a inclusão no esporte, com foco na importância do acesso para pessoas com deficiência e na valorização da diversidade. Outro ponto foi a saúde mental no esporte, com destaque para trechos de uma entrevista da skatista Raíssa Leal, usada como exemplo de conscientização sobre o tema.
Temas de geografia
Segundo Rodrigo Magalhães, professor de Geografia da Plataforma AZ, a prova teve nível de dificuldade relativamente fácil e foi fortemente marcada por temas ambientais. “A dinâmica ambiental dominou mais da metade da prova”, afirmou o docente.
Entre os tópicos cobrados, Rodrigo Magalhães destacou: concentração de CO₂ na atmosfera em escala global; diminuição das chuvas no Brasil associada ao desmatamento na Amazônia; uso de tecnologias de sensoriamento remoto para rastrear focos de incêndio no Cerrado; Diminuição do nível da água no Rio Reno, na Europa, e os impactos na navegação fluvial; e questões sobre carros elétricos e transição energética.
Temas de história
Para o professor Pedro Zonta, de História da Escola SEB Lafaiete, o Enem 2025 trouxe uma presença maior da disciplina em relação ao ano passado — “um pouquinho mais conteudista”, mas ainda com forte caráter interpretativo e interdisciplinar.
“Foi uma prova com muitas conexões entre História, Sociologia e Filosofia, além de questões que misturavam espaço geográfico e temática histórica”, avaliou.
Segundo ele, o exame apresentou diversas perguntas sobre questões raciais, culturais e de patrimônio, temas tradicionais do Enem, mas também abordou a religião de forma mais ampla que o habitual.
“Tivemos três questões que mencionavam religião: uma comparando o cristianismo, o judaísmo e o islã a partir da visão de trabalho; outra sobre como proibições e aceitação mudam nas tradições religiosas; e uma terceira que tratava das religiões de matriz africana em diálogo com o debate sobre racismo no Brasil”, explicou.
Zonta destacou ainda que a prova não trouxe questões sobre ditadura militar e teve pouca presença de História do Brasil, com menções pontuais à passagem da monarquia para a república, à era Vargas e ao período colonial.
Temas de filosofia e sociologia
De acordo com Larissa Vitória, professora de Filosofia e Sociologia do Elite Rede de Ensino, o Enem 2025 manteve o perfil interdisciplinar e trouxe questões clássicas da filosofia política e moral, além de temas ligados ao comportamento humano e à sociedade contemporânea.
“Em Filosofia, tivemos Heráclito e sua perspectiva de cosmos; Platão, com o conceito de cidade ideal; e Aristóteles, ao discutir as formas de governo”, explicou a docente.
Ela destacou ainda a presença de autores modernos e contemporâneos.
“A prova citou Paul Collier mencionando Adam Smith para discutir a motivação das condutas no capitalismo; David Hume sobre eloquência e racionalidade; Foucault na temática da disciplina e capilaridade do poder; Bentham relacionando punição e felicidade; e Derrida ao diferenciar direito e justiça”, listou.
Larissa também lembrou de referências literárias e críticas sociais:
“Houve trechos de Clarice Lispector, tratando do ser e da conduta humana, e de Herbert Marcuse, refletindo sobre a sociedade industrial.”
Para Carlos Henrique, autor de Filosofia e Sociologia do Colégio e Sistema pH, o Enem 2025 manteve nível de dificuldade semelhante ao do ano passado, com uma prova “possível para os alunos que se prepararam ao longo do ano”.
“Em Filosofia, houve um ponto muito relacional — uma questão ligando ética a um texto de Clarice Lispector sobre sua infância — além de perguntas sobre política, com Aristóteles e Platão, e sobre Foucault”, explicou.
Na parte de Sociologia, o professor destacou que o foco esteve voltado para direitos, cultura e religião, mantendo a abordagem social e interpretativa que costuma marcar a prova.
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Temas de linguagens e códigos
O professor Arturo Chiong, de Língua Portuguesa do Curso Anglo, avaliou que a prova de Linguagens manteve nível médio de dificuldade e seguiu o padrão dos últimos anos, com textos mais curtos e questões objetivas.
“Na prova de português, 11 questões tinham imagens. Não foi uma prova cansativa”, observou.
Segundo ele, o exame trouxe forte presença de temas sociais, com destaque para saúde emocional e mental, variação linguística e representatividade.
“Houve questões sobre saúde emocional, incluindo a fala de atletas negras brasileiras sobre o cuidado com a mente, e outra sobre as diferentes formas da palavra canjica no Brasil”, explicou.
Uma questão também destacou um quadro de Dalton Paula exposto no Masp, que retrata pessoas negras identificadas por nome — conferindo visibilidade e identidade a essas figuras históricas.
O professor ainda chamou atenção para um bloco de cinco questões sobre crônica, que exploravam as características do gênero, e para uma questão comparando os 12 trabalhos de Hércules com a rotina de um trabalhador brasileiro, relacionando mitologia e cotidiano.
Na prova de espanhol, Chiong destacou que o exame seguiu o padrão esperado de dificuldade.
“Houve uma música com temática sobre a exploração dos trabalhadores, uma questão que explorava o vocabulário na Espanha e na América Latina, e outra voltada aos recursos gramaticais da língua”, resumiu.
Redação do Enem
O tema da redação foi anunciado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em seu perfil no X.
Justamente neste ano, o Enem registrou um aumento significativo no número de idosos inscritos na prova:
17.192 participantes,
191% a mais do que em 2022.
Os estados com mais representantes da terceira idade são Rio de Janeiro (3.087), São Paulo (2.367) e Minas Gerais (1.997).
Thiago Braga, autor e professor de Língua Portugues, comenta redação do Enem
Neste domingo (9), candidatos respondem 45 questões de linguagens e outras 45 de ciências humanas, além da redação, cujo tema foi “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”
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Caderno de provas Enem
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