Desarmamento, governo em Gaza e presença militar: as questões em aberto do acordo de paz entre Israel e Hamas
Entenda como a guerra em Gaza mudou o jogo de poder no Oriente Médio
O segundo dia de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas ficou marcado pelo retorno de meio milhão de palestinos à Cidade de Gaza, onde encontraram um cenário de destruição após dois anos de conflito. No sábado (11), as duas partes confirmaram que cumprirão suas promessas.
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A frágil relação entre os dois lados da disputa, porém, deixa dúvidas sobre até que ponto o pacto será de fato implementado e expõe as questões que ficaram em aberto e devem ser discutidas somente em uma segunda fase de negociações.
Entre elas, Israel quer garantir que o grupo palestino entregue suas armas e deixe Gaza.
Os israelenses também exigem que um governo pós-conflito para o território palestino não seja estabelecido sob o domínio do Hamas ou da Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia.
Por sua vez, o Hamas demanda que Israel retire completamente suas tropas e não tenha permissão para reiniciar os ataques.
Segundo Hossam Badran, membro do escritório político do Hamas, as tratativas da nova rodada de conversas serão complexas e difíceis, uma vez que não há consenso em praticamente nenhum dos pontos críticos citados.
Qualquer obstáculo na resolução dessas questões pode desfazer o acordo e potencialmente levar Israel a retomar sua campanha para destruir o Hamas, prejudicando a reconstrução de Gaza.
À agência de notícias AFP, Badran afirmou que o Hamas está pronto para reagir caso Israel retome as hostilidades.
“Esperamos não voltar à guerra, mas nosso povo palestino e as forças de resistência certamente irão confrontar e usar todas as suas capacidades para repelir essa agressão”, disse.
Uma cúpula que contará com a presença do presidente americano, Donald Trump, foi marcada no Egito para acompanhar a implementação dos termos do tratado de paz. O evento acontecerá na segunda-feira (13). O Hamas não deve participar da cerimônia, segundo a AFP.
Desarmamento do Hamas em jogo
Abu Ubaida, porta-voz do Hamas, em foto de arquivo de novembro de 2019
REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
A primeira fase do acordo tem como objetivo libertar os reféns restantes em troca da libertação de centenas de palestinos presos por Israel. As duas partes confirmaram que isso acontecerá até segunda-feira, data em que Trump se reunirá com 20 líderes no Egito.
O exército israelense também disse que já recuou suas tropas para linhas dentro do território palestino, retirando-se da Cidade de Gaza e de Khan Younis. Também autorizou as Nações Unidas a ampliarem a entrega de ajuda partir de domingo.
No entanto, a primeira inflexão está no desarmamento do Hamas. O grupo se recusa a abrir mão de seu poder de fogo, dizendo ter o direito à resistência armada até que a ocupação israelense dos territórios palestinos termine.
Para Israel, o desarmamento é uma exigência fundamental. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem repetido que sua campanha não terminará até que as capacidades militares do Hamas sejam desmanteladas.
Há sinais de que o grupo palestino poderia concordar com uma “desativação” de suas armas mais ofensivas, entregando-as a um comitê conjunto palestino-egípcio.
Neste sábado, porém, Hossam Badran disse à AFP que o desarmamento do Hamas está “fora de questão e não é negociável”. Trump, por outro lado, indicou que a questão da entrega das armas pelo Hamas seria abordada posteriormente.
Retirada de tropas israelenses
Tanque israelense se movimenta em área próxima à fronteira do sul de Israel com a Faixa de Gaza se preparando para ofensiva terrestre em 18 de maio de 2025.
AP Photo/Ariel Schalit
Em negociações anteriores, o Hamas insistia que não libertaria seus últimos reféns a menos que as tropas israelenses deixassem Gaza completamente. O desdobramento das tratativas exigiu ao grupo palestino confiar que a retirada total acontecerá após a entrega dos sequestrados.
O plano proposto por Trump também previa que uma força de segurança internacional liderada por países árabes entrasse em Gaza, onde atuaria ao lado de policiais palestinos treinados por Egito e Jordânia.
A ideia é que as forças israelenses deixassem o território à medida que essas forças fossem implantadas. Quanto tempo isso levaria, se semanas, meses ou anos, não foi acordado.
Por enquanto, Israel deve manter uma estreita zona de segurança dentro de Gaza. O governo de Netanyahu também quer manter controle do corredor Filadélfia, uma faixa de terra na fronteira de Gaza com o Egito.
Futuro governo internacional?
Palestinos, que foram deslocados para a parte sul de Gaza por ordem de Israel durante a guerra, seguem por uma estrada enquanto retornam ao norte, durante um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza, na região central da Faixa de Gaza, em 11 de outubro
Mahmoud Issa/Reuters
Israel ainda exige que Gaza fique livre da influência do Hamas, mas também rejeita que a Autoridade Palestina assuma o governo, uma vez que o arranjo poderia levar à criação futura de um Estado palestino.
O plano de Trump sugere que um órgão internacional supervisione uma administração palestina e coordene a reconstrução de Gaza. A proposta inicial da Casa Branca previa que o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair liderasse o órgão, mas essa ideia tem sido rechaçada pelo Hamas.
O grupo palestino, que governa Gaza desde 2007, só concorda em entregar a administração do território a um grupo de tecnocratas palestinos e rejeita a sugestão de que seus membros deixem a região definitivamente.
“Falar sobre expulsar palestinos, sejam eles membros do Hamas ou não, de sua terra é absurdo e sem sentido”, afirmou Hossam Badran à AFP.
Risco para Gaza
Ataque de Israel atinge edifício na Cidade de Gaza em 15 de setembro de 2025
REUTERS/Dawoud Abu Alkas
Se Hamas e Israel não conseguirem chegar a um acordo final ou as negociações ficarem sem conclusão, Gaza pode entrar em um limbo, com tropas israelenses ocupando partes do território e o Hamas permanecer ativo.
Nesse caso, Israel não deve permitir uma reconstrução significativa, deixando a população palestina dependente de acampamentos ou abrigos improvisados. Muitos temem que Israel dificulte as tratativas como justificativa para retomar seu ataque.
Netanyahu tem insistido que controlará a segurança de Gaza a longo prazo, fala em ocupar o território e deslocar a população de forma “voluntária” a países da região.
O conflito teve início quando militantes liderados pelo Hamas invadiram Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns. Em Gaza, mais de 60 mil pessoas morreram em dois anos de ataques, segundo dados do grupo radical palestino.
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