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Pacote da Tesla paga bilhões a Musk mesmo se ele não cumprir metas “ambiciosas como ir a Marte”

Elon Musk em foto de setembro de 2025
AP Photo/Julia Demaree Nikhinson
Quando os diretores da Tesla ofereceram a Elon Musk o maior pacote de remuneração executiva da história corporativa em setembro, isso tranquilizou os investidores ao estabelecer que ele teria que alcançar marcos equivalentes a uma “missão a Marte” para ganhar US$ 878 bilhões em ações da Tesla ao longo de 10 anos.
A proposta do conselho dizia que Musk teria que “transformar completamente a Tesla e a sociedade como a conhecemos” em áreas como robótica e direção autônoma, além de valor de mercado e lucros. Caso contrário, Musk receberia “zero” a menos que atingisse esses objetivos “incrivelmente ambiciosos”.
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No entanto, Musk pode lucrar dezenas de bilhões de dólares sem cumprir a maioria dessas metas, segundo uma análise da Reuters sobre os objetivos de desempenho e mais de uma dúzia de especialistas em remuneração executiva, avaliação de empresas, robótica e tendências automotivas, incluindo direção autônoma.
Ele poderia receber mais de US$ 50 bilhões ao atingir apenas algumas das metas mais fáceis estabelecidas pelo conselho — metas que não necessariamente revolucionariam os produtos ou os negócios da Tesla, segundo a revisão da Reuters.
Mesmo atingindo apenas duas das metas mais fáceis, junto com um crescimento modesto das ações, Musk embolsaria US$ 26 bilhões — mais do que a remuneração vitalícia dos oito CEOs mais bem pagos combinados, grupo que inclui Mark Zuckerberg (Meta), Larry Ellison (Oracle), Tim Cook (Apple) e Jensen Huang (Nvidia), segundo análise da empresa de pesquisa Equilar para a Reuters.
As metas de vendas de veículos de Musk são excepcionalmente fáceis de alcançar, segundo quatro especialistas do setor automotivo. Se Musk vender, em média, 1,2 milhão de carros por ano na próxima década, ele ganha US$ 8,2 bilhões em ações se o valor de mercado da Tesla crescer de US$ 1,4 trilhão hoje para US$ 2 trilhões em 2035 — abaixo da média de crescimento de mercado de longo prazo. Isso representa meio milhão de carros a menos por ano do que a Tesla vendeu em 2024.
Na terça-feira, a Tesla lançou versões mais baratas de seus modelos mais vendidos — o SUV Model Y e o sedã Model 3 — para tentar reverter a queda nas vendas.
Outras três metas de desenvolvimento de produto são escritas com linguagem vaga, o que pode garantir pagamentos substanciais a Musk sem aumentar significativamente os lucros, segundo seis especialistas da indústria de robótica e direção autônoma que revisaram os objetivos para a Reuters.
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Tesla e Musk não responderam aos pedidos de comentário
Em comunicado, um porta-voz do conselho da Tesla afirmou: “O pacote de remuneração proposto na verdade vale zero para nosso CEO, a menos e até que os acionistas vejam o valor da empresa quase dobrar e uma meta operacional seja alcançada.”
A proposta exige que Musk permaneça como executivo da Tesla por pelo menos sete anos e meio para receber qualquer compensação em ações. No entanto, Musk teria direito de voto associado às ações assim que as metas forem atingidas.
No mês passado, Musk disse em sua rede social X que o pacote “não se trata de ‘remuneração’, mas de garantir influência suficiente sobre a Tesla para garantir segurança caso venhamos a construir milhões de robôs.”
Na proposta, o conselho afirma que Musk é “motivado por mais do que formas convencionais de remuneração.”
Carros autônomos, robôs-taxi e robótica
Tesla Cybercab
divulgação/Tesla
Cada meta concede a Musk 1% das ações da Tesla se ele também atingir marcos de valorização entre US$ 2 trilhões e US$ 8,5 trilhões.
Uma das metas exige 10 milhões de assinaturas do software “Full Self-Driving” da Tesla, que atualmente não dirige sozinho sem intervenção humana. A meta não exige que o sistema seja totalmente autônomo, apenas que seja um “sistema de direção avançado”.
Esse é um “termo inventado” sem definição padrão na indústria, disse William Widen, professor de direito da Universidade de Miami especializado em direção autônoma. Especialistas dizem que a meta de assinaturas pode ser facilmente alcançada com a redução do preço — atualmente US$ 8.000 à vista ou US$ 99 por mês. A principal concorrente da Tesla em veículos elétricos, a chinesa BYD, já oferece sistema semelhante gratuitamente.
“Se eu fosse o advogado pessoal de Musk, gostaria dessas definições,” disse Matthew Wansley, professor da Faculdade de Direito Cardozo, em Nova York, especializado em direção autônoma.
Outra meta exige um milhão de robôs-táxi em operação comercial e especifica carros “sem motorista humano no veículo.” Essa definição pode ser mais restritiva, mas quatro especialistas disseram que pode ser interpretada como permitindo controle remoto ou por alguém no banco do passageiro — como a Tesla faz atualmente em seu primeiro teste de robô-táxi em pequena escala em Austin, Texas.
O contrato de trabalho de Musk também estabelece a meta de um milhão de robôs, aparentemente referindo-se aos robôs humanoides Optimus, prometidos há tempos por Musk. Mas a meta não especifica “humanoide” e pode ser interpretada de forma ampla, segundo dois especialistas da indústria de robótica. Ela define “bot” como “qualquer robô ou outro produto físico com mobilidade usando inteligência artificial.”
“É uma formulação totalmente vaga,” disse Christian Rokseth, analista da empresa de pesquisa Humanoid.guide, especializada em robótica e IA. Os investidores, segundo ele, esperam um robô humanoide.
Metas modestas valem bilhões
Cumprir duas metas de produto em uma década, junto com uma valorização de US$ 2,5 trilhões, rende a Musk US$ 26,4 bilhões em ações. Cumprir três metas e alcançar US$ 3 trilhões em valor de mercado rende US$ 54,6 bilhões.
Isso significa que Musk pode ganhar essas quantias sem entregar Teslas autônomos — o produto emblemático que ele promete há uma década.
Gene Munster, sócio da gestora Deepwater Asset Management, investidora da Tesla, disse que, apesar da linguagem vaga no contrato de desempenho, os investidores acabarão cobrando dele a entrega de produtos transformadores.
“Se as pessoas começarem a perceber que há algo estranho nisso, ele estará em apuros,” disse Munster.
Na proposta de remuneração, o conselho da Tesla declarou que Musk é a única pessoa capaz de transformar a empresa em uma gigante da inteligência artificial. O conselho acrescentou que Musk, durante as negociações, levantou a possibilidade de “priorizar outros empreendimentos” caso não chegassem a um acordo sobre a remuneração.
Especialistas em governança corporativa disseram que o conselho está assumindo um risco enorme ao apostar tão explicitamente seu futuro em um único líder. Wei Jiang, vice-reitora da escola de negócios da Universidade Emory, disse que o conselho da Tesla concedeu a Musk um “monopólio” sobre o cargo mais alto da empresa. Uma boa governança corporativa, segundo ela, exige abraçar um “mercado competitivo e fluido para CEOs.”
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A parte difícil: lucros
As metas de desempenho mais difíceis para Musk provavelmente são aquelas relacionadas ao lucro — uma medida sem margem para interpretações. Os diretores estabeleceram oito metas de lucro entre US$ 50 bilhões e US$ 400 bilhões em ganhos antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA), em comparação com os US$ 16,6 bilhões que a Tesla registrou em 2024.
O negócio de veículos elétricos da Tesla, que representa quase toda a sua receita, está se deteriorando, com modelos envelhecidos enfrentando forte concorrência. Seu único modelo mais recente, o Cybertruck, fracassou.
No entanto, a forma como a remuneração de Musk está estruturada permite pagamentos massivos sem que ele atinja nenhuma meta de lucro. Cada objetivo, combinado com um aumento no valor de mercado, oferece o mesmo pagamento de 1% em ações. Assim, Musk recebe o mesmo valor por cumprir metas relativamente fáceis — como vendas de veículos ou assinaturas do FSD — que receberia por aumentar os lucros em cinco vezes, para US$ 80 bilhões.
As metas de valorização estabelecidas pelo conselho podem se mostrar muito mais fáceis do que as metas de lucro.
O valor da Tesla poderia atingir US$ 2 trilhões, por exemplo, se as ações crescerem modestos 6,4% ao ano na década seguinte à aprovação do pacote de remuneração em 3 de setembro. Isso representa um crescimento mais lento do que a média anual de 8,5% do S&P 500 nos últimos 30 anos e menos da metade da média de 13,2% do Nasdaq.
Seth Goldstein, analista da Morningstar que acompanha a Tesla, disse que a valorização da empresa poderia facilmente ultrapassar US$ 3 trilhões ao longo de uma década com desempenho médio de mercado. Ele apontou, no entanto, que o valor da Tesla já está amplamente baseado em “produtos futuros que ainda não existem.”
Para que Musk reivindique os maiores pagamentos oferecidos pelo conselho da Tesla, Goldstein disse: “vamos precisar começar a ver produtos reais.”
Kevin Murphy, professor de finanças da Universidade do Sul da Califórnia e testemunha especialista da Tesla na defesa do pacote de remuneração de Musk de 2018, reconheceu que as metas de vendas de veículos e valorização de US$ 2 trilhões não são “muito difíceis”, mas que apenas alcançá-las não satisfará os acionistas.
Tampouco os “alguns bilhões” das metas mais fáceis significam muito para Musk, que se importa mais com conquistas tecnológicas históricas, disse Murphy. Os acionistas, segundo ele, estão focados nas metas mais difíceis e nos maiores pagamentos porque acreditam que Musk — e somente Musk — pode alcançá-los.
“Vale a pena?”, disse Murphy. “Os acionistas parecem achar que sim.”

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