Israel e Hamas assinam acordo de paz para primeira fase de cessar-fogo na Faixa de Gaza
Entre as várias condições impostas no acordo de paz na Faixa de Gaza alcançado por Israel e o Hamas na quarta-feira (8), uma delas prevê a devolução, pelo grupo terrorista, dos corpos de reféns mortos em cativeiro.
No entanto, este pode ser um dos principais gargalos para que o acordo efetivamente entre em vigor. Isso porque, segundo a imprensa norte-americana e israelense, o Hamas não sabe onde está parte dos corpos dos reféns.
Nesta quinta-feira (9), a Turquia anunciou que uma força-tarefa com autoridades estrangeiras foi montada para ajudar o Hamas a encontrar esses corpos por diferentes localidades da Faixa de Gaza.
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Estados Unidos, Catar e Egito — os mediadores do acordo — além de Israel também participarão da força-tarefa, segundo o governo turco.
O número de corpos desaparecidos ainda era desconhecido até a última atualização desta reportagem. No total, sabe-se que 28 dos 48 reféns ainda sob poder do Hamas morreram. A imprensa israelense fala de cerca de seis ou sete corpos desaparecidos. Oficialmente, o grupo terrorista ainda não havia se pronunciado sobre esse assunto.
Segundo a imprensa dos Estados Unidos, o Hamas pediu um prazo maior para devolver os corpos das vítimas que morreram.
Autoridades turcas participaram de negociações no Egito que resultaram em um cessar-fogo e um acordo sobre reféns na quinta-feira.
Pontos do acordo
▶️ O plano de paz foi apresentado no fim de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e negociado com a mediação de Egito, Catar e Turquia.
Segundo Trump, Israel e o Hamas chegaram a um acordo para a implementação da primeira fase do plano de paz.
Nesta etapa, todos os reféns mantidos pelo grupo terrorista desde 7 de outubro de 2023 serão libertos. Em troca, Israel irá soltar prisioneiros palestinos.
Tropas israelenses que estão na Faixa de Gaza devem recuar de suas posições.
O território palestino receberá mais caminhões de ajuda humanitária, com a entrega de comida, água e medicamentos.
🟢 Reféns: Segundo Israel, o Hamas ainda mantém 48 dos 251 sequestrados no ataque terrorista de outubro de 2023. As demais vítimas foram libertas durante a vigência de outros dois acordos de cessar-fogo ou por meio de operações militares israelenses.
A proposta apresentada pelos Estados Unidos prevê que o Hamas terá até 72 horas para libertar todos os reféns, vivos ou mortos.
Israel estima que, dos 48 reféns, apenas 20 estejam vivos.
Segundo Trump, todos os reféns serão libertos provavelmente na segunda-feira (13).
Por outro lado, a imprensa americana informou que o grupo terrorista pediu mais tempo para devolver os corpos das vítimas que morreram.
O Hamas alega que não sabe onde estão todos os corpos dos reféns mortos e que precisa realizar buscas para localizar os desaparecidos.
Em troca, a expectativa é que Israel liberte quase 2 mil prisioneiros palestinos, incluindo condenados à prisão perpétua.
💥 Ataques em Gaza: O plano prevê o fim dos bombardeios na Faixa de Gaza. Segundo Trump, as Forças de Defesa de Israel irão recuar para linhas acordadas com o Hamas, o que indica que tropas ainda permanecerão no território palestino.
A GloboNews apurou junto às Forças de Defesa de Israel que o país concordou em diminuir a área de ocupação em Gaza de 75% para 57% em um primeiro momento.
O plano divulgado pela Casa Branca no fim de setembro já previa uma retirada gradual das tropas do território palestino.
O chefe do Estado-Maior de Israel instruiu as tropas a se prepararem para todos os cenários e para a operação de retorno dos reféns.
Antes mesmo do acordo, Trump já havia pedido que Israel reduzisse as operações em Gaza. A mídia israelense informou que os militares receberam ordens para diminuir a ofensiva.
🤝 Início do cessar-fogo: Ainda não está claro quando o acordo de paz começará a valer oficialmente. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que a proposta será votada pelo governo na quinta-feira (9).
A votação interna do acordo é um procedimento formal do governo israelense.
Processos semelhantes ocorreram nos outros dois acordos de cessar-fogo firmados em novembro de 2023 e janeiro de 2025.
Segundo a AFP, o acordo deve ser formalmente assinado às 6h desta quinta-feira, pelo horário de Brasília.
Trump deve viajar para Israel nos próximos dias. O presidente dos EUA foi convidado para discursar no Parlamento do país. Na quarta-feira, ele disse a jornalistas que considera visitar a Faixa de Gaza.
🔎 O que falta esclarecer: Apesar do anúncio, vários detalhes do tratado ainda não foram divulgados. Não se sabe, por exemplo, se todo o plano apresentado pela Casa Branca foi aceito por Israel e pelo Hamas, ou se houve modificações.
Em uma rede social, Trump afirmou que esta é a “primeira fase” e os “primeiros passos” para a paz. A imprensa americana afirma que isso sugere que ainda há pontos do plano que precisarão ser discutidos para sua implementação.
Já a imprensa israelense informou que os pontos mais sensíveis do acordo foram resolvidos.
Também não está claro como será a transição de governo na Faixa de Gaza, proposta pela Casa Branca.
Além disso, não há confirmação de que o Hamas tenha se comprometido a entregar suas armas.
A guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando os terroristas lançaram um ataque que resultou na morte de mais de 1.200 pessoas e no sequestro de outras 251. De lá para cá, mais de 60 mil palestinos morreram em Gaza, segundo dados de autoridades ligadas ao Hamas.
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Plano de paz
Palestinos olham para fumaça ao longe de ataque de Israel na Faixa de Gaza em 5 de outubro de 2025.
REUTERS/Mahmoud Issa
A proposta divulgada pela Casa Branca no fim de setembro tem 20 pontos e prevê a Faixa de Gaza como uma zona livre de grupos armados.
Pelo plano, integrantes do grupo terrorista Hamas podem receber anistia, desde que entreguem suas armas e se comprometam com a convivência pacífica. Eles também não poderão participar do governo de Gaza.
Ainda segundo a proposta, Gaza deve ter um governo temporário de transição formado por um comitê palestino tecnocrático e apolítico, responsável por administrar os serviços públicos do dia a dia.
O grupo deve ser composto por palestinos considerados “qualificados” e especialistas internacionais.
Todo o trabalho ficará sob supervisão do chamado “Conselho da Paz”, chefiado por Donald Trump. Não está claro se Israel vai integrar esse grupo.
Caberá a esse comitê administrar os recursos para a reconstrução da Faixa de Gaza.
O Hamas e outras facções palestinas vão ficar impedidos de participar do novo governo, direta e indiretamente.
No futuro, o poder deve ser transferido para a Autoridade Palestina — reconhecida internacionalmente como governo dos territórios palestinos. Essa transferência, porém, está condicionada a reformas na própria Autoridade Palestina, segundo a Casa Branca.
O plano também prevê um pacote econômico e de desenvolvimento a ser elaborado por um painel de especialistas. Segundo a Casa Branca, esses profissionais já participaram da criação de cidades modernas no Oriente Médio.
Em relação à segurança, Gaza passaria por desmilitarização, com a destruição de toda a infraestrutura bélica e proibição de novas instalações. O processo seria supervisionado por monitores independentes.
Será criada a Força Internacional de Estabilização (ISF), composta por atores estrangeiros encarregados de treinar a nova polícia palestina, que assumirá a segurança interna.
As Forças de Defesa de Israel vão se retirar gradualmente de Gaza, entregando os territórios ocupados à ISF.
Haverá ainda um perímetro de segurança para que militares israelenses permanecessem posicionados até que o risco de ressurgimento de ameaças terroristas fosse eliminado.
O que dizem Israel e o Hamas
Tanque de Israel perto da fronteira com a Faixa de Gaza
Jack Guez / AFP
▶️ O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, comemorou o acordo e ressaltou a libertação dos reféns mantidos pelo grupo terrorista. Ele disse ainda que se reunirá com a cúpula do governo na quinta-feira (9) para a aprovação interna do tratado.
“Um grande dia para Israel”, publicou em uma rede social. “Esse é um sucesso diplomático e uma vitória nacional e moral do Estado de Israel.”
“Agradeço aos valentes soldados das Forças de Defesa de Israel e a todas as forças de segurança, graças à coragem e ao sacrifício deles chegamos a este dia. Com a ajuda de Deus, juntos continuaremos a alcançar todos os nossos objetivos e a expandir a paz com nossos vizinhos.”
▶️ Em nota, o Hamas elogiou o trabalho de Catar, Egito e Turquia na mediação do cessar-fogo e agradeceu os esforços de Trump para o fim definitivo da guerra.
O grupo também pediu que os países garantidores do tratado obriguem Israel a cumprir todos os termos e evitem adiar a implementação do que foi acordado.
“Reafirmamos que os sacrifícios do nosso povo não serão em vão, e que permaneceremos fiéis à nossa promessa, sem abrir mão dos direitos nacionais do nosso povo até alcançar liberdade, independência e autodeterminação”, disse.